Richard Hammond e as motos
Posso não estar tão surrado quanto meus dois colegas, mas ainda assim, é fato que estou me aproximando da meia-idade, se já não estiver acomodando-me no meu banco de praça favorito com um suspiro confortável e um saco de pão para os patos. Há sinais: tenho um ou dois fios de cabelo brancos; gosto de um sapato confortável; eu meço a passagem do tempo desde que fiz algumas coisas em décadas; considero assistir Downtown Abbey perto de uma experiência religiosa… e gosto de criar e usar um ditado até que esteja tão batido quanto eu.
A minha garagem é o testemunho do significado da motocicleta para aqueles que se aproximam da meia-idade. Ela contém exemplares imaculados das motos da minha juventude. Uma Suzuki GSX-R 1100 resplandece ao lado de uma Kawazaki ZXR 750 H1, e com uma pequena KR1S 250 entre elas. Todas são igualmente importantes para mim, com níveis iguais de significância. Elas também são terríveis. Eu andei nelas recentemente e acabei me perguntando como motociclistas conseguiram sobreviver aos anos 1980. No entanto, voltando ao assunto, um dos ditados que gosto de usar diz respeito a esta questão.
As motos avançaram muito, mas não tanto quanto o equipamento. Eu alegremente mostrarei a qualquer um que estiver aprendendo a andar de moto que enquanto as motos melhoraram imensamente (com o controle de tração, GPS, suspensões, direção e freios melhores, etc.), na verdade é o equipamento – luvas e botas e capacetes e por aí vai – que dá ao motociclista moderno a vantagem sobre o motociclista de apenas duas décadas atrás.
Tecidos modernos e equipamentos à prova d’água elevaram nós, motociclistas, acima das vacas, que têm que ficar no campo e aceitar o afago gelado da chuva e do vento. E, tendo isto em mente, eu parti todo alegre na viagem de 209 km de casa até Londres semana passada, num tempo ruim o bastante para fazer um pescador durão ler uma carta de sua mãe.
Eu não me importei tanto porque eu poderia testar minha novas luvas de inverno. E elas funcionaram. Minhas mãos permaneceram secas e aquecidas enquanto viajava até Oxford pela A40, abrindo caminho através de quilômetros de trânsito e em direção à capital.
Enquanto me aproximava de Londres, eu usei minha mão excessivamente grande para digitar o endereço que queria no GPS. Infelizmente, o mecânico que instalou o GPS na semana anterior não apertou os parafusos do suporte, e ele acabou caindo de cara no tanque de combustível. Eu o levantei e sua cara mole olhava a minha feito um pato morto, mas então vi que os parafusos estavam se soltando cada vez mais e logo cairiam, fazendo com que ele ficasse preso no garfo, travasse a direção e me matasse. Melhor eu encostar.
Postos de gasolina vender milhões de variedades de salgadinhos e bebidas, mas eles não vendem ferramentas. Estava ficando desesperado, e aí me lembrei: eu tenho uma moto, e ela tem um kit de ferramentas debaixo do assento. E tinha. Consertei o suporte e segui em frente. Mas quando tirei minha luva, ela recusou-se a aceitar minha mão sem resistência. O forro interno acabou se deslocando, e meu dedo mindinho ficou contorcido no forro de algodão feito alguém com febre alta contorcendo-se em uma noite especialmente ruim. Estava doendo muito e fez aumentar o pânico.
Mas a minha mente deixou de pensar neste desconforto quando um moto-boy, untado em sujeira e cicatrizes, encostou ao meu lado e grasnou que minha placa estava caindo. Eu estacionei numa baia designada para motos. A placa estava pendurada em apenas um parafuso. E era uma placa diferente também. Esta tinha o nome da concessionária que a revisou. Alguém decidiu usar minha moto como um outdoor móvel. Eles teriam se saído dessa, se eles tivessem o bom-senso de prende-la direito.
Isto me irritou, mas não tanto quando eu voltei, duas horas depois, e vi minha moto com uma multa nela. Eu nem sabia que elas podiam ser multadas assim. A luva ainda não cabia direito; tinha certeza que minha mão estava ficando preta devido a pressão; minha placa estava presa com fita adesiva e, se eu não gastasse £80, Boris Johnson roubaria minha moto.
Decidi mandar tudo às favas. E então, ao deixar Londres, com minha cabeça baixa e olhos cerrados enquanto olhava através de uma chuva horizontal pesada o bastante para deter um tanque de guerra, minha mente concentrada e minha visão embaçada por causa de um visor coberto de sujeira e chuva, eu esqueci da minha mão, da multa, da placa e do GPS, e eu curti o desafio, com sua dificuldade e a emoção. Andar de moto ainda é bem real: isto ainda dói se fizer algo errado, não sai barato, coisas à prova d’água nunca realmente são à prova d’água, as concessionárias exploram você quando podem e as luvas são ruins. Mas é brilhante, e eu não mudaria nada. Tá bom, eu daria um jeito nas luvas.
Publicado em 08/12/12, em Hammond, Matérias traduzidas, News e marcado como motos. Adicione o link aos favoritos. 4 Comentários.
show o relato apesar de não curtir moto fiquei empolgado durante a leitura do texto, e ai teremos algum episódio esse final de semana, pois estou entediado aqui sem nada para fazer.
Só resolvi este problema das luvas adotando as de pesca submarina e uma subluva com o mesmo tecido da 2ª pele. Sem frio, sem água de chuva, sem incomodação com forros que prendem o dedo…
Sou mais apaixonado por moto que de carro.
Uma coisa é verdade nem se compara os equipamento de motociclista de antigamente com os de hoje.
Uma vez vi um capacete da década de 70, comparado aos meus é um casca de ovo. Ele dobrava só fazer pressão com as mão tipo esses “Sam Marino” que o povo compra pensado que são seguros.
Luvas ? Quem usava ? Jaquetas eram aquelas vagabundas sintéticas que você vê muito motoboy usando que em caso de um tombo com o atrito do asfalto vai se fundir a pele dele.
Bota ? Só de borracha no máximo em dia de chuva.
Vale apena de mais gastar um R$ 2.000 em equipamento, que além de seguro são muitos bonitos.
Parabéns a toda equipe Top Gear BR pelo trabalho.
Sigo vocês des da época do YouTube.
Sou gearhead e apaixonado por carros, mas de tudo que já passou pela minha vida e tive de me desfazer, o que mais me dá saudade e sinto falta até hoje foi minha Virago 535.
Um v2 encorpado, tração via cardã e refrigerado à ar. Pedaleiras avançadas e após colocar a 5ª marcha era só se concentrar no asfalto e sentir o vento teimosamente passando entre os zíperes da jaqueta e ao redor do pescoço abaixo do capacete.
A sensação mais prazeirosa que já tive na vida foi quando busquei a moto em Florianópolis e a pilotei subindo a BR 101 em SC até chegar em Jaraguá num início de tarde de uma 4ª feira de agosto.
Subir a BR numa tarde ensolarada tento o litoral de companhia à minha direita e o asfalto praticamente livre em duas pistas foi talvez a melhor sensação sobre rodas que já tive, e até hoje não consegui suplantá-la.
Sinto falta da Virago, e invariavelmente, quando as coindições de minha vida me permitirem novamente ter uma moto custom, provavelmente terei outra… ou uma HD se puder sonhar um pouquinho mais alto.